sexta-feira, 4 de abril de 2014

A fada do Som





Quando tinha 12 anos escrevi uma pequena história sobre quando descobri alguns sons a que se chamei "A Fada do Som".

A minha descoberta dos sons foi uma coisa que demorou muito tempo e foi muito lenta.

Fiquei fascinada e ainda fico com alguns barulhos que existem, são fantásticos, claro que os ouvintes não ligam porque para eles é normal; Adoro o som do piano e as vozes das pessoas que eu amo.

Por exemplo, no outro dia ia no carro e ouvia de vez em quando um barulho, assim tipo "POP", não sabia o que era e comecei a ficar preocupada porque podia ser alguma avaria no carro.

Então pedi à minha mãe para darmos uma volta e ver o que era.
Então o que era?

Era uma garrafa de água de plástico que com o calor fazia o  barulho (dilatava) o tal "POP".

Mais um som que descobri.

Aqui está então um bocadinho da história, espero que gostem!

e Beijinhos

"...Ouço barulhos!
Cada vez mais barulho, o que é?
Algo que dança!
Penso ver a coisa mais maravilhosa da minha vida.
Fadas; Faries e Borboletas; Butterflies.
Oh, a beleza desta fada a dançar.
É linda ! Linda! Linda!
Ela diz: Eu sou a Ephigénia, a Fada do Som.
Eu não consigo sequer pensar.
Estou fascinada, Estou espantada!
O meu coração está aos pulos dentro de mim!
Ephigénia diz: Sabes que o teu coração faz barulho?
A tua barriga faz barulho?
Quando rasgas papel , ele faz barulho, tudo faz barulho, menos os teus pensamentos.
E eu pensava: "Então tudo faz barulho"
Ganhei coragem e perguntei:
Quem és tu?
Ephigénia diz: "Sou a Fada do Som, e estou aqui para te ajudar a perceberes os sons. ..."

Sofy *

sábado, 15 de março de 2014

Surda-muda???




NÃO!!! Não sou...

Isto é uma palavra que alguns médicos e a maioria das pessoas usam para falarem dos surdos.

Digo-vos que é uma palavra que me ofende muito, que me irrita, que me faz sentir discriminada, que me magoa, que me põe fora de mim e nem sei bem porquê.

Eu não sou Muda, eu  como todos os surdos, tenho voz.. E para aqueles surdos que não são oralistas, temos uma Língua e comunicamos. Eu falo oralmente, embora de uma forma diferente, e ás vezes perguntam.me se sou estrangeira, às vezes, na brincadeira, costumo dizer que sou ucraniana, porque é necessário algum tempo para me perceberem, e também uso  a Língua Gestual Portuguesa que é a minha Língua Materna., quando é necessário e também quando me apetece.

Sou como uma pessoa estrangeira a que é preciso habituarmo.nos.

E só quem não tem nenhuma língua e não consegue comunicar é que é MUDO!

EU NÃO SOU MUDA!

EU SOU SURDA!

Sofy*

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O meu percurso escolar


onde fui mais feliz, 11º ano



Até ao 12º ano andei em 8 escolas.

Isso não é  normal!!! Dizem os meus amigos.

No máximo, as pessoas andam em 3 escolas, então andei em tantas escolas porquê?

Quem escolhe as escolas, geralmente são os pais e no meu caso também foi assim, e se mudei tantas vezes de escola foi sempre à procura de melhores condições e de felicidade.

Houve escolas em que fui muito infeliz, e por isso passava longos períodos sem ir à escola, aprendia muito mais em casa, com a minha mãe.

Até se chegou a pensar em eu sair da escola e estudar só em casa(Homescholling, isto faz-se muito nos EUA), mas os meus pais achavam que eu precisava de estar com outras pessoas da minha idade, e embora em andasse sempre em escolas de ouvintes, sempre estive com pessoas surdas mas as suas conversas também não me interessavam.

Passei por momentos muito maus, verdadeiras situações de bulling que nunca contava aos meus pais, para não os preocupar e ficarem tristes, tive professores muito maus, que eles próprios também me discriminavam, diziam que o meu lugar era entre os surdos e que eu prejudicava a turma, e que não avançavam mais por minha causa, e isto era mentira, eu tinha até melhores notas que os outros, e estava mais atenta em algumas disciplinas!

Senti-me muitas vezes completamente excluída, posta de lado!

Havia ainda outros professores que em vez de me ensinarem, me faziam coisas, dando-me notas altíssimas, aí a minha mãe ficava furiosa, porque dizia que os professores eram maus profissionais e assim eu não aprendia.

As escolas em que fui mais feliz foram o Colégio Luso-Francês, embora aí fosse só a pré-primária e por isso era muito pequenina e não tinha noção da minha surdez, achava que quando fosse grande ia falar como os outros, e na escola Augusto Gomes, em Matosinhos, onde fiz amigas verdadeiras que ainda tenho.

Na escola de referência, Alexandre Herculano, onde integrei uma turma de 12º ano só para surdos, em que eu era a única rapariga,  também não gostei.

Das pessoas surdas, fiz amigos, que ainda hoje tenho, mas não gostei da divisão entre surdos e ouvintes, da falta de interesse dos meus colegas pelas disciplinas, da facilidade com que dão as notas, da pouca exigência com as pessoas surdas, da preguiça dos surdos o que depois faz com que os pessoas surdas tenham muito mau português.,

Esta escola foi para mim também uma desilusão, mas como em tudo houve coisas boas e conheci algumas pessoas fantásticas como a professsora de Biologia, a Dra Adelia por quem tenho imenso carinho.

Se eu fosse aqui falar de todo o meu percurso escolar dava um filme e nunca mais acabava, tive situações mesmo muito, muito más, mas de certeza toda a gente passou por situações más e aquilo que não nos mata, torna-nos mais fortes!
Mas também tive professores fantásticos que se interessaram por mim e se esforçaram ao máximo.
Lembro aqui alguns dos bons professores que passaram na minha vida,
a professora Helena de piano, a prof Cuca de ballet , as profs. Maria João e Margarida de ballet, a prof Mónica Pacheco do ensino especial, a prof Luísa da pré-primária, o prof Diamantino de dança, a prof. Emília Fradinho de inglês, a prof. Cristina Guimarães de matemática, e a prof Paula Quelhas de matemática.

kissss

Sofy*

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

I.C. a favor ou contra




Ultimamente tem-se falado muito dos implantes cocleares, é nos jornais, na televisão, etc. e porquê?

Porque mais uma vez não há implantes em Coimbra para colocar em crianças e adultos, e mais uma vez a APAIC (Associação Portuguesa de Apoio aos Implantados Cocleares) escreve cartas, fala com a comunicação social, tentando chamar à atenção do I.C., desta vez o pai do Matthew (do movimento Silent Sculture) ajudou a APAIC na sua luta pelos implantados, de mostrar as vantagens dos I.C..

Mais uma vez algumas pessoas surdas que são contra os I.C. são extremamente agressivos nas suas formas de lutar contra os I.C. muitas vezes sem realmente saberem o que é o I.C., dizendo mentiras e coisas que até lhes fica mal porque dizem tantos disparates.

Chegam até a pôr vídeos falsos, e quando lhes pergunto, aqueles que me conhecem, se eu sou doente, infeliz, atrasada ou outra coisa assim, respondem-me que não é nada contra mim, mas contra o I.C. e eu digo mas eu tenho I.C. desde os 3 anos de idade e agora tenho 20 anos.

E sou muito feliz com o meu I.C. mas aceito pais que não queiram pôr I.C. nos seus filhos, é a opção deles,embora ache que não é a melhor opção.

Agora dizerem que são contra os I.C. porque acaba a LGP, ou a comunidade surda, é para mim puro egoísmo, nunca ouvi falar de que as pessoas cegas estejam contra o olho biónico porque os cegos vão acabar  e o braille também vai acabar.

Estes argumentos são discriminação, ignorância e talvez até manipulação das pessoas surdas.

Eles dão argumentos falsos e negam a verdade, os factos.

Existem em Portugal cerca de 1000 implantados, muitas crianças e jovens, ninguém morreu, nem ficou  paraplégico, também não conheço ninguém com problemas psicológicos por ter I.C., pode ter outras doenças como todas as outras pessoas.

Há I.C. melhores que outros por exemplo o meu I.C. não foi dos que teve mais sucesso, mas ainda assim agradeço todos os dias aos meus pais por me darem um I.C..

Gostava muito de fazer um 2º I.C. se pudesse!

E digo mais... Sou surda, vou sempre ser surda, tenho amigos surdos e ouvintes e implantados, negros, chineses, altos e baixos,..., sei LGP  mas tenho um I.C. que me dá a liberdade de ouvir a música, o mar, o canto dos pássaros e a voz dos meus pais, do meu irmão e do meu namorado!!!

Sofy*

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Saber dizer não...

À volta das praxes ficou tudo maluco!

As pessoas estão a confundir praxes com rituais estúpidos.

Se eu estivesse a entrar agora para a faculdade, tenho a certeza absoluta que os meus pais não me iam deixar ir à praxe.

Em relação ao acontecimento trágico, já não é a primeira vez que acontece algo tão grave.


Para mim, aquilo que aconteceu no Meco, não é praxe, são rituais patéticos, tipo sociedades secretas e deve ser dos muitos filmes e livros que se vêem e lêem e não se conseguir distinguir a realidade da ficção; Agora os jovens só se divertem  se enfrentarem a morte e fizerem coisas parvas e acham que isso é  que faz deles o máximo!


O que se passou no Meco, não é praxe, é fanatismo, é loucura!


É claro que ninguém era caloiro, nem inocente, ninguém estava lá obrigado!


É óbvio que o Dux não apontou uma arma à cabeça dos Doutores e eles podiam perfeitamente dizer não.


Foi muito grave claro, podia ter sido evitado, mas eles foram os únicos responsáveis.

Embora também pense que as praxes deverão ser feitas dentro das suas faculdades, com regras e com maior controlo.

Claro que aparece sempre jovens que acham que são os maiores e vão querer humilhar e mandar, mas aí nós, os que são praxados, temos que reagir e enfrentá-los.

Eu própria tive um Doutor que não sabia que eu era surda, dirigiu-se a mim e disse algo que eu não percebi pelo que lhe pedi para repetir, então ele, a gozar comigo, chamou-me burra!
Claro que não deixei passar, ele teve que me pedir desculpa e assim o fez.

É claro que se fosse hoje, de certeza absoluta, que os meus não me deixavam de maneira alguma fazer parte da praxe.

Nenhum deles entrou nas praxes, o meu pai diz que é uma forma de bulling, a minha mãe diz que é uma perda de tempo e o meu irmão que também não quis fazer parte da praxe, diz que é um bando de frustrados que tem na praxe a única hipótese de mandar em alguém;

Então o que vejo eu na praxe?




Eu já fui caloira duas vezes, e adorei, foi uma óptima experiência e deixou-me muito feliz, porque o meu objectivo era me integrar melhor no grupo, pois eu tenho muitas dificuldades em arranjar amigos, e aumentar a minha auto-estima, que é um pouco baixa.

Deu imenso resultado, senti-me igual às outras pessoas pois todos me respeitavam.

Também acho que em vez das praxes fazerem rituais parvos, podem sim fazer actividades de solidariedade, passeios culturais, festas temáticas, debates, etc.; e assim integrarem melhor os caloiros.

Coisas como comerem excrementos, lamber o chão, fazer de conta que estão a fazer sexo, despir ou outras coisas parecidas, para mim isso não é praxe e os caloiros devem saber dizer "NÃO".

Espero que as praxes não acabem mas tenham mais controlo e que isto sirva para alguns jovens perceberem que andam muito errados!

 Tenho o maior orgulho nas                            minhas afilhadas

Sofy*

sábado, 25 de janeiro de 2014

Perfumes e Chocolates...

Paladar(gosto), olfacto(cheiro), visão(ver), audição(ouvir) e tacto(sentir) são os cinco sentidos de um ser humano, estar privado de um desses sentidos, no meu caso da audição, leva-me a tentar aproveitar mais os outros sentidos.

Diz-se que quando não se tem um sentido, se desenvolve mais os outros, penso que só com força de vontade e prática(treino) é que conseguimos desenvolver mais os outros sentidos, mas também penso que algumas pessoas já nascem com certos Dons.
Por exemplo, eu não vejo melhor porque sou surda, sou sim mais atenta às expressões das outras pessoas, aos seus movimentos, ao movimento dos seus lábios, ao que acontece à minha volta e às vezes apercebo-me de coisas que os outros não vêem.

Mas penso que o meu cheiro e paladar estão mais apurados, não por ser surda mas porque nasci assim e porque a minha mãe tem um olfacto apuradíssimo e sabe dizer o que uma pessoas comeu só pelo hálito de uma pessoa e também identificar os perfumes e eu sou como ela.

O perfume e o chocolate são dois mundos ricos em odores(cheiros), paladares e texturas.

  Não consigo passar sem os dois; São um mundo mágico que me fazem sonhar.

O perfume dá-me bem estar, confiança, alegria e as embalagens também fazem parte deste mundo, adoro Boss Women da Hugo Boss, J´Adore da Dior e Omnia da Bvlgari.





O chocolate preto, branco, de leite, recheado, em pó, granulado, líquido, em tablete para a mousse, bombons, etc., uma infinidade de formas e sabores para vermos e usarmos e de degustarmos(saborear).

O chocolate desperta em mim , sentimentos tão bons e contrariamente a outros doces não sinto  que o chocolate vá directamente para o meu rabo (que me engorde), mas sim vai para o brilho dos meus olhos, faz-me feliz.

Os melhores chocolates para mim são os Suíços mas em Portugal se fazem chocolates muito bons, como os de Arcádia e da Casa Grande!

  Experimentem as línguas de gato de Arcádia!
Divinais!!!

Ah! e o filme "Chocolate", já viram?
Com Johnny Deep e Juliette Binoche


Adorei ver este filme sensacional, vale a pena ver.

Sofy*

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O meu I.C.




Até agora nunca falei no I.C. e porquê?

Já uso I.C. há 17 anos, por isso para mim é algo normal, que faz parte de mim como a roupa ou os sapatos que visto e calço todos os dias, não me imagino a sair sem o meu I.C., é como uma pessoa que usa óculos e que tem que os pôr todos os dias.

Nucleus22


Eu ainda sou do tempo em que I.C. era um aparelho que se usava à cintura , preso por um cinto, e que não ficava lá muito bem na roupa, e também era um pouco incómodo (não era confortável) usar este aparelho. O meu 1º I.C. (Modelo Nucleus 22) tinha uma caixa do tamanho do 1º Ipod, que eu tinha que usar à cintura com um cinto e tinha um fio que o ligava ao retroauricular (aparelho que estava atrás da orelha) e mais à antena, era uma coisa a que eu estava habituada e nunca tive vergonha, andei com este aparelho cerca de 12 anos, mas quando comecei a ficar maior, por volta dos 13 anos, quando usava um vestido, ou quando usava o fato de ballet, o aparelho era muito feio de se ver.

Freedom


Eu queria muito trocar de I.C. mas devido à minha programação difícil, a troca do meu I.C. era sempre adiada, até que em 2009 foi possível a troca pelo modelo Freedom.

E de facto não podia haver melhor nome para um aparelho - Freedom- que em português quer dizer liberdade.

Este Freedom libertou-me daquele aparelho à cintura e do fio.
O Freedom deu-me a liberdade de ouvir melhor, de poder dançar com liberdade e mais à vontade.

Agora gostava de poder trocar pelo Nucleus 6 mas mais uma vez vou ter que esperar.

Espero que 2014 me traga este pequeno sonho.

Sofy*